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João 5.4 – Um anjo descia e agitava a água

João 5.4 – Um anjo descia e agitava a água

por Felipe Morais

Esse lindo texto bíblico tem sido alvo de críticas:

Passadas estas coisas, havia uma festa dos judeus, e Jesus subiu para Jerusalém. Ora, existe ali, junto à Porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco pavilhões. Nestes, jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos [esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse]. Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado? Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. Então, lhe disse Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. João 5:1-8

Alguns têm sugerido que esse trecho deveria ser excluído das nossas Bíblias, supondo que se trate de um acréscimo:

[esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse]

Cuidado com esse tipo de argumentação embasada em suposições e “evidências científicas” modernas.

Após a investida da crítica textual (c. 1831 até hoje), esse trecho relativo ao agitar da água por um anjo passou a ser questionado e colocado entre parênteses como uma porção “suspeita” das Escrituras. Geralmente, os críticos colocam entre colchetes trechos que geralmente não aparecem em um ou dois dos manuscritos considerados mais antigos. Rejeitam a grande maioria do testemunho dos demais manuscritos “majoritários” formando assim um texto eclético “minoritário” baseando-se não exclusivamente, mas principalmente em dois manuscritos: Codex Sinaítico (א) e o Codex Vaticano (B).

Entre os unciais (manuscritos em caracteres maiúsculos, existem cerca de 322), os 4 principais são o Codex Sinaiticus é geralmente datado por volta de de 330–360 d.C., o Codex Alexandrinus geralmente é datado por volta de 400–440 d.C., o Codex Vaticanus geralmente é datado por volta de 300–325 d.C., Codex Ephraemi Rescriptus geralmente é datado por volta de 450 d.C.

Detalhe 1: O próximo da lista, o Codex Bezae, é mais antigo (c. 400 d.C.) que o Ephaemi (c. 450 d.C.) e provavelmente que o Alexandrinus (400–440 d.C.,).

Detalhe 2: Essas datas são aproximadas e não podem ser atestadas com exatidão.

É interessante notar que, durante o mesmo período desses Codex, na Patrística, que são os comentários dos primeiros bispos na História da Igreja, temos alguns testemunhos muito importantes sobre o uso em larga escala e a autenticidade desse trecho. Dois dos mais respeitados teólogos desse período usam esse texto em seus escritos: Ambrósio de Milão (339 a 397 d.C.) e Agostinho de Hipona (354 a 430 d.C.).

Assim, vemos que a Igreja, de modo geral, usava esse texto bíblico sem nenhum tipo de dúvida quanto à sua origem apostólica. Dessa forma sabemos que a suposição da crítica textual de que esse trecho seria uma inserção e, por isso deveria estar entre parênteses [ ] como “suspeito ou falso”, não passa de mais uma artimanha para mutilar as Escrituras.

Esses manuscritos usados pela crítica textual geralmente são considerados “melhores” por estarem bem conservados. Mas, o fato de alguns manuscritos estarem em melhor qualidade de leitura, pode indicar que não eram muito utilizados, afinal os melhores materiais certamente nós usamos com mais frequência o que faz com que se desgastem justamente devido ao uso.

Ambrósio e Agostinho são mais antigos que a grande maioria dos manuscritos unciais e estavam vivos durante o período da formação destes primeiros.

Vamos ao testemunho desses bispos:

AMBRÓSIO, de Milão, 339 a 397

3. O que foi lido ontem? “Um anjo descia, em certo momento, na piscina”, e todas as vezes que o anjo descia “a água se agitava e aquele que nela descesse primeiro ficava curado de qualquer doença que retinha” (Jo 5,4). Isso representa a figura de nosso Senhor Jesus Cristo que viria. 4. Por que um anjo? Ele é, de fato, “o anjo do grande conselho” (Is 9,5[LXX]). Em certo momento, porque ele estava reservado para a última hora, a fim de parar o dia no seu ocaso e adiar o seu ocaso. Portanto, todas as vezes que o anjo descia, a água se agitava. Talvez perguntes: “Por que agora não se move?” Ouve o motivo: os sinais são para os incrédulos, a fé é para os que crêem (cf. 1Cor 14,22). 5. Aquele que descia primeiro ficava curado de qualquer doença. Que significa primeiro? Em tempo ou dignidade? Compreende em ambos os sentidos. Se se trata de tempo, aquele que descia em primeiro lugar ficava curado antes, isto é, trata-se mais do povo dos judeus do que do povo das nações. Se se trata de dignidade, o que descia em primeiro lugar é aquele que tinha o temor de Deus, a preocupação pela justiça, a graça da caridade, o amor pela pureza, e este era curado de preferência. Entretanto, nesse tempo um só era salvo. Nessa época, digo, só se curava aquele que descia em primeiro lugar no tempo. Quanto maior é a graça da Igreja, na qual são salvos todos aqueles que descem! 6. Vede, porém, o mistério. Nosso Senhor Jesus Cristo veio à piscina e muitos doentes estavam ali deitados. E com certeza muitos doentes ali jaziam, onde apenas um era curado. Então ele disse àquele paralítico: “Desce”. Ele respondeu: “Não tenho homem” (Jo 5,6-7). Vê onde deves ser batizado, de onde vem o batismo, senão da cruz de Cristo, da morte de Cristo. Aí está todo o mistério: ele sofreu por ti. Nele serás resgatado, nele serás salvo. 7. Não tenho homem, ele disse. Isto é: “a morte veio por um homem e a ressurreição vem por outro homem” (1Cor 15,21). Não poderia descer, não poderia ser salvo aquele que não acreditava que nosso Senhor Jesus Cristo tinha assumido o carne por meio de uma virgem. Mas aquele que esperava o homem Jesus, mediador entre Deus e os homens, que esperava aquele de quem foi dito: “E o Senhor enviará um homem para salvá-los” (Is 19,20), dizia: “Não tenho homem”. Por isso ele mereceu chegar à cura, porque acreditava naquele que viria. Todavia, teria dito melhor e mais perfeito se ele acreditasse que aquele que ele esperava já havia chegado.[1]

AMBRÓSIO, de Milão, 339 a 397

22. Por isso, te foi dito: “Em certo momento, um anjo do Senhor descia na piscina, a água se agitava e aquele que descesse na piscina depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que o retinha” (Jo 3,5). Era em Jerusalém que ficava essa piscina, na qual apenas um era curado a cada ano, mas ninguém ficava curado antes que o anjo descesse nela. Portanto, o anjo descia e, como indício de que o anjo descera, a água se agitava. A água se agitava por causa dos incrédulos. Para eles existia um sinal, para ti a fé; para eles, descia um anjo, para ti, o Espírito Santo; para eles, agitava-se uma criatura; para ti, é o Cristo, Senhor da criatura, que age. 23. Naquele tempo, um só ficava curado; agora, todos são curados, ou melhor, um só, que é o povo cristão.[2]

AGOSTINHO 354 a 430, bispo de Hipona (África)

A lei foi dada para convencer o doente a pedir o médico. Este é o caminho oculto de Deus. Mais acima ouviste: “Cura todas as tuas enfermidades”. As doenças estavam ocultas nos doentes. Foram dados os cinco livros de Moisés. A piscina era ladeada de cinco pórticos (cf Jo 5,2-4). Atraía os doentes, a fim de ficarem ali prostrados e expostos e não para serem curados. Os cinco pórticos expunham os doentes, mas não os curavam. A piscina curava só um que descesse a ela, enquanto as águas se agitavam; esta agitação da piscina figurava a paixão do Senhor. Veio incógnito e uns diziam: Ele é o Cristo; e outros: Não é o Cristo. É justo; é pecador. É mestre; é sedutor. A água agitou-se, isto é, agitou-se o povo. E nesta perturbação da água, um só era curado, porque na paixão do Senhor cura-se a unidade. Quem estiver fora da unidade, apesar de jazer nos pórticos, não poderá ser curado. Embora observe a lei, não chega à salvação. E aí está um mistério; o Senhor ensina que a lei foi dada para convencer os pecadores e para que estes invocassem o médico no intuito de receberem a graça.[3]

AGOSTINHO 354 a 430, bispo de Hipona (África)

Mas o que afirma o Apóstolo? “Onde avultou o pecado, a graça superabundou” (Rm 5,20), isto é, agravando-se a doença, valorizou-se a medicina. Com efeito, irmãos, aqueles cinco pórticos de Salomão, que encerravam uma piscina no meio, porventura curava os doentes? Lemos no evangelho: “sob esses cinco pórticos, estavam deitados no chão numerosos doentes” (Jo 5,3). Aqueles cinco pórticos são a Lei, contida nos cinco livros de Moisés. Para lá eram levados os doentes, retirados de suas casas, para ficarem deitados no chão sob os pórticos. Portanto, a Lei apresentava os doentes, mas não os curava. Com a bênção de Deus, a água se agitava, como se um anjo para lá descesse. Ao se agitar a água, o primeiro que podia descia e era curado. Aquelas águas, cercadas de cinco pórticos, representavam o povo judaico encerrado na Lei. O Senhor, com sua presença, agitou esse povo e ele foi morto. Se a vinda do Senhor não tivesse perturbado o povo judaico, acaso seria crucificado? Por isso, a água agitada significava a paixão do Senhor, que foi realizada pelo povo judaico agitado. O doente que acredita nesta paixão, desce à água agitada e se cura. A Lei, isto é, os pórticos, não curava; cura a graça, pela fé na paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. Um só é curado, por causa da unidade. Por este motivo, o que diz aqui o salmista? “Em seu coração preparou ascensões, no vale de lágrimas, ao lugar que ele determinou”. Ali nos alegraremos. [4]

Para se ter uma ideia, o próprio texto (ainda que se retire o verso 4 que está em colchetes, demonstra que havia um evento miraculoso pelo próprio testemunho do povo e do homem que estava ali entre eles. Observe:

“jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos” (João 5:3)

O que eles estariam fazendo ali se tudo não passasse de um mito? Na primeira e segunda vez que a água fosse agitada e alguém descesse e saísse sem que houvesse uma cura, a multidão já teria desanimado de continuar. Continuemos…

“Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado? Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.” (João 5:5-7)

Veja só! O homem testificou que a água se agitava. Mas outro descia antes dele, pois não havia quem o levasse até a água. Havia já 38 anos que ele estava nessa situação Se os que desceram antes dele não apresentassem sinais de cura, certamente ele já teria abandonado esse propósito.

Alguém dirá: Deus não precisa de intervenção de um anjo para realizar cura. Respondemos: Porque não? Os anjos sempre foram usados para servir (cf. Hb 1.14). Afinal, Deus não precisa de ninguém, mas ainda assim usou vários homens para realizar seus milagres! Além dos inumeráveis milagres do Antigo Testamento, quando olhamos para o Novo Testamento, Jesus deu poder não somente aos 12 apóstolos mas também aos 70 discípulos para realizar curas e outros sinais. Desses 70 estão os que mais tarde os abandonaram. O nosso Deus ainda usa seus servos para realizar seus propósitos!

Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. Marcos 16:17-18

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Deus te abençoe!


[1] II LIVRO – Ambrósio de Milão. Explicação dos símbolos / Sobre os sacramentos / Sobre os mistérios / Sobre a penitência (Locais do Kindle 510-529). Editora PAULUS. Edição do Kindle.

[2] SOBRE OS MISTÉRIOS – Ambrósio de Milão. Explicação dos símbolos / Sobre os sacramentos / Sobre os mistérios / Sobre a penitência (Locais do Kindle 1113-1119). Editora PAULUS. Edição do Kindle.

[3] SALMO 102,15.7 – Santo Agostinho. Comentário aos Salmos 101-150 (Locais do Kindle 965-972). PAULUS Editora. Edição do Kindle.

[4] SALMO 83 – Santo Agostinho. Comentário aos Salmos 51-100 (Locais do Kindle 11055-11065). PAULUS Editora. Edição do Kindle.

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Escrito por
Pr. Felipe Morais
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7 comentários
  • Minha humilde opinião, hoje se ve isto nas igrejas (predios) muitos estao esperando o agitar, movimento, manifestacões e nada.
    Jesus, passou e ninguem percebeu, so que alguns por misericordia Ele se aproxima e faz uma obra.

  • Simplesmente inefável. Glória a Deus por esse ensino. Reconheço seu grande esforço Pastor em responder ao chamado ensurdecedor do Senhor. Obrigado Senhor.

  • Como sempre aprendendo. Louvo a Deus todos os dias pela oportunidade de conhecer o Sr Pastor, canal límpido do Senhor nosso Deus

  • A paz do Senhor Jesus Cristo.
    Aula maravilhosa.
    Deus continue te abençoando grandemente e que muitos sejam alcançados através da sua vida e de seu ministério. Obrigada por atender ao chamado dEle. Louvado seja Deus 🙌

  • Deus te bençoe por nos compartilhar esses textos, por muito tempo fiquei intrigado com esse texto, mas agora sei que sempre foi Jesus!!!